Sairei bem no escuro pela rua

— Já sem sonhos, os que um dia ousaram mirar-se nas estrelas.

Ela me atingiu com essa. Era sempre assim, quando eu menos esperava uma interrupção, quando eu menos queria um pensamento externo a se intrometer em minhas cogitações.

— Que foi, não reconheceu? Um legítimo Pablo del Araguaia, como você sussurrava às vezes quando ainda tinha esperanças de me comover.

Não à toa, era feita de ágata. Era feita para transmitir calor, não para sofrer seus efeitos. A sibila falava perto de minha nuca, sem temer minhas reações.
Ela sentia quando eu me perdia completamente. Sempre que eu lia as notícias do mundo nas velhas páginas de jornal. Sempre que eu me via em hábitos do antigo século 20.
Porque eu não sabia como reagir.
E a sibila sabia que eu não devia reagir a ela.

Porque ela desejava me ensinar a viver no mundo sendo ela mesma um mundo inteiro concentrado. Mas não conseguia caber nessa fôrma.

— Puxa, só queria te ajudar com um pouquinho de fracasso.
— Com o exemplo, né? O homem é catalão, e você é profeta de borda de precipício.
— Tá bom. Mas essa história de sonhos não fui eu que comecei.

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Postagem original em 26/01/2007.

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